Rasga-me/Rasga-se

Maria Thereza Neves & José Ribeiro Zito

Rasga-me

Maria Thereza Neves

Rasga-me as entranhas ,o peito

como ramos nus esgarçados ao vento

rompa as cercas do passado

queimando lembranças do tempo

Rasga-me em pedaços

deixa-me de novo alcançar os vales

assentar verdes esperanças

quaisquer idéias

que voam ainda latejadas.

Mude os trajetos

os folhetos, as paisagens

diminua as distancias tão longas

devolva-me os itinerários

da volta desta viagem sem fim

Rasga-me toda

sinto saudade do vento que corta

da velocidade que arrepia

da pele tremula de emoção

dos gritos soltos

aqueles que vêm de dentro, bem do fundo

de alguém que fui um dia

profundamente viva

hoje profundamente morta.

*

Rasga-se

José Ribeiro Zito

Rasga-se o sono,

As pálpebras colam-se,

Os olhos dão brilho às rugas.

Forjou-se na noite o descuido.

A pele envelhece.

A escuridão do sonho sulca a alma.

É Quarta-Feira e as horas

Adormecem no esquecimento.

Isto assim não valeu.

Quero voltar a vestir-me de Domingo.

Hoje acordei com a paisagem das horas.

As horas são para viver

Não são para passar.

Quero voltar ao sono do tempo de sonhar

Porque o mundo ainda é humano

E eu ainda sou uma criança

A juntar os meus pedaços espalhados

Na mais esquecida distancia.

31/05/07

Maria Thereza Neves
Enviado por Maria Thereza Neves em 31/05/2007
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