COMPLEXO INDÔMITO



Não reconheço mais a ponte...
Nem a dimensão dos sinais
Translocados no frio
Permeado em meus ossos,
Instalado no estalo
Dos dedos, dos passos
Trôpegos nas ruas anuviadas.

A razão
Estoura seus desígnios
Em poça d'água lamacenta,
Resvalando a placa de saída
Que insinua-se descaradamente...

Mas você não vê!
Não entende!
Não crê!
Desfaz asas de papel
Em chuva de sentenças
Inexistentes.

Tua carranca imersa
Em teimosia,
Prefere ladrar em campo abstruso,
Ignorando anseios
Em minhas mãos estendidas.

O lago congelou...
Travas enferrujaram
Tantas flores secaram...
A árvore renegou o fruto!
Um borrão consolidou o nada...
O silêncio castiga os isolados.

Pessoas temerosas se encondem
Do bicho homem,
Em suas cadeias residenciais.
Somente os lobos avançam...
Tomam de assalto a cidade,
Buscando sangue para
Grafar heresias em muros calcificados.
E você...
Preso a insistência de morar no escuro,
Tropeçando em musgos e raízes
Remotas da natureza esquecida.

No vórtice de palavras,
Tudo que sinto é exposto,
Como se pudesse abarcar
Teu inextricável oculto.
Sentimentos enclausurados
Nos cacos da noite,
Transitórios em teus olhos duros
Relutam - lutam - relutam!

Todos os augúrios
Da língua,
Sumida a sombra
De demônios despertos,
Agigantados ao som da meia-noite,
Tentam me afugentar
Diuturnamente.

Eu não temo!...
Não vou recuar!

Conheço bem a essência
Embutida as defesas
De tua casca dura,
Posso ler as entrelinhas doridas
Nos lábios sombrios, confusos
No riso forçado,
Intermitente.
Enxergo perfeitamente
A flor branda no esmalte
Dos teus dentes.

Christinny Olivier










Christinny Olivier
Enviado por Christinny Olivier em 27/12/2014
Reeditado em 27/12/2014
Código do texto: T5082554
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