MIRTES ENTRE OUTROS CONTOS
AS TARDES CHUVOSAS
 
 
Um copo  com margarida
Miúda do campo
Nada em volta do vento
O aroma
Ela nada o dedo
Na água
Se deixa viver
Pela janela que mostra
O longe
Tão perto de acontecer
Ele havia enviado
Uma carta
Desesperada
Estou vivendo
Com outra
Tenho vasos
E flores crescendo
Não tenho lamentos
Uma dama que vive de dia
Malicia que me acorda
De noite
Acende o homem
Que quer
Dentro dela
Mulher de asas abertas
Livre nos lençois manchados
De orgasmo
A mesma carta
Nadava em rios calmos
De agonia
O último adeus
No rodapé deixava escrito
Ainda lembro
Do que não era fantasia
Quero viver tudo
De novo mais um dia
Ela disfarça o promiscuo
Em ovelha
Quer ter ele a raposa
Das corredeiras
Descendo aos pés
Subindo veloz
Me deixa suar  em pele
Ardente me fere
Não cure minha febre
Leve me deixa
Ir contigo
Ainda que o nebuloso
Caudal
No horizonte
Prenunciava nenhuma vinda
Sombras da noite
Lua no copo
Da margarida
Brilha  no olho
De quem parece vendida
Mãos que entregam
O que não havia sentido
O medo do acaso
Quebra o que tem
Por vaso
Corte e sangue
Chão de amantes
Diamantes da morte
Pacto de corpos
Beijos alucinantes
Não vagam p’ra cama
Se ama um calvário
De dores
As cores do orgasmo
Tem sémen
Tem sempre
Os tons do espasmo
 incolor que desce salgado
Bebe um sorriso
De saudade
A maldade repentina
Menina doce na janela
Mulher selvagem
Das trevas
Abre o escuro contido
Dele por entre ela.