Voz Voante
Eu que fora, amor, tantas vezes vil
Tantas vezes precipitado...
Apesar do alvoroço, quisera eu
Naquela noite estar equivocado.
Mas, ingênuo (lê-se tolo),
Dei meu voto à fantasia
E mais uma vez, de novo ...
Caí na mesma armadilha .
Sou comprável com qualquer promessa,
Aceito medalhas como garantia,
Acredito em quem conta mentiras,
Peço clemência a quem não regressa.
Dizem que as pessoas nos fazem
Somente aquilo que permitimos.
É provável que seja verdade!
Talvez esteja cedo para admitirmos
Que nos mutilamos para pagar o preço
De se sentir apaixonado.
Assim, aceita-se qualquer troco
Por um amor desventurado.
Eu, tantas vezes eu ...
Fiz de sua dor o meu pecado.
Tornei-me um pobre desgraçado
Pela mesmo boca que outrora me beijava.
Vendi meu direito de protestar
E quando escapuliam algumas palavras
Um brado forte me interrompia :
- Egoísta !
Minha aflição nunca pode ser ouvida .
Mas ninguém pode calar a poesia
Por isso escrevo. E assim minha voz tem asas.
Em outros tempos aprisionada
Agora pousa onde bem quer .