VERSOS DE LUARES
Às vezes, andando,
abstraído, pela rua,
a poesia brota, serena,
no meio da multidão;
conserva a sua pureza
de lua que flutua,
a recitar os versos
enluarados nas tardes
quentes de verão.
À medida que ando,
os versos de luares
caem da amplidão
astral vespertina
(enluarizando
a urbana tarde),
tão alheios à realidade
nua e crua da multidão,
a passar apressada
em habitual agitação;
sem se dar conta
da leveza das nuvens
brancas a envolver
a branca lua... Sou
cúmplice artístico
dessa abstração
poética enluarada,
a vivenciar o êxtase
da surrealidade
terrena astral;
em meu andar absorto,
cultivo a consciência
encantada com os versos
de luares, que vão sendo
compostos a partir
da beleza contemplada
do luar na tarde
de verão terreal;
como se o poeta
(mesmo andando na rua
em meio a multidão),
conservasse a pureza
vespertina do luar
em seu poético coração.