O mal da aurora

Erguem-se plúmbeas nuvens

De inquietude esperada

Deus tomara

Que estas nuvens venham logo

E limitem a luz declarada

Da estrela insistente

Que aquece a gente

Com luz e fogo

Ó, mal anunciado, afasta-te

Rogo-te o mais profundo rogo

Que a noite esqueceu

Esta infeliz criatura

Que sou eu

A noite, ó aurora

Não me atura

Ó, boas-novas iluminadas de toda gente

Menos eu

Bem de todos, o meu mal

Minha seta inconteste

Da lembrança sepulcral

Que a noite não cedeu

O seu sono inocente

A uma criatura insistente

Em velar, em cultivar

Uma dor de cabeça que preste

Ao serviço de não me deixar

Dormir

Ó, mal da aurora, mal do horror

Que faço eu de ti que não te posso parar?

Que faço eu das páginas naftalínicas que li?

Que faço das dores do amor

E mais ainda das dores de ti?

As dores de te ver surgir

E de ver o meu amor se apagar?

Pois, ó aurora que não te quero menos do que não quero terminar este verso

A ti confesso

Meu amor não é mais meu

E tu viestes iluminar a sombra raquítica do que se perdeu

E em outros ventos vais ainda iluminar

O amor que não é mais o meu

Ó, aurora

A ti agora

Te digo basta!

Tu chegas e eu me vou

Que o sono chegou

E o meu amor ainda se afasta

Ó, aurora, tu sabias que já te amei?

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 26/12/2014
Reeditado em 26/12/2014
Código do texto: T5081313
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