RIO SECO

A solidão é pedra no sapato,

é grito de garganta inflamada,

é querer ter tudo e nunca ter nada,

é não dormir com medo de assombração.

É querer cantar sem ter afinação,

tecer poesia sem inspiração.

A solidão é bala matadeira,

casa sem janela, sem porta, nem eira,

rio sem pinguela, fazenda sem porteira,

é amarga, é azeda, não desce no gogó,

é saudade sem que, é lembrança vazia,

coisa de dar pena e chorar de dó.

É noite de lua sem som de viola,

ganhar matutagem e não ter sacola,

é pássaro triste preso na gaiola,

é querer voar e não ter asa,

é querer voltar e não mais ter casa,

é querer ficar e ter que ir embora.

É prisão perpétua, é pena de morte,

é punhal de ponta, é faca de corte.

É leito de rio carente de água,

é riso forçado repleto de mágoa,

é violeiro triste, amargo cantador,

cego, surdo, mudo e carente de amor.

Saulo Campos - Itabira MG

Saulo Campos
Enviado por Saulo Campos em 23/12/2014
Código do texto: T5078558
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