RIO SECO
A solidão é pedra no sapato,
é grito de garganta inflamada,
é querer ter tudo e nunca ter nada,
é não dormir com medo de assombração.
É querer cantar sem ter afinação,
tecer poesia sem inspiração.
A solidão é bala matadeira,
casa sem janela, sem porta, nem eira,
rio sem pinguela, fazenda sem porteira,
é amarga, é azeda, não desce no gogó,
é saudade sem que, é lembrança vazia,
coisa de dar pena e chorar de dó.
É noite de lua sem som de viola,
ganhar matutagem e não ter sacola,
é pássaro triste preso na gaiola,
é querer voar e não ter asa,
é querer voltar e não mais ter casa,
é querer ficar e ter que ir embora.
É prisão perpétua, é pena de morte,
é punhal de ponta, é faca de corte.
É leito de rio carente de água,
é riso forçado repleto de mágoa,
é violeiro triste, amargo cantador,
cego, surdo, mudo e carente de amor.
Saulo Campos - Itabira MG