Pano de trapo.
Que planeta é esse
que ata e desata corações com maestria,
que faz festa com o bocejar da noite,
que faz amor com as sobras da fé.
Que planeta é esse
que serve os ventos com fendas na alma,
que respinga saudade ao aconchegar do medo,
que resvala a si próprio numa avalanche de paixão.
Que planeta é esse
que a cada dia faz brotar uma aquarela mais linda
que caminha sobre a solidão buscando tecos já vividos
que é capaz de ressuscitar o gozo quando todas as fronhas
já viraram panos de trapo.
Que planeta é esse
que não se encolhe, nem tampouco se esconde
fica sempre assim, meio mocho, meio passado,
só aguardando nossa vez de brilhar.
Que planeta é esse que esquece a cola da tradução
e faz seu show em pleno improviso,
que chora ao ver seu irmão amuado, perdido, esquecido.
Que sabe de cor cada vértebra moída, cada valsa atrasada,
que entende o que os rios trazem no bojo das suas canções.
Planeta que nos acolheu, nos cerziu, nos ninou até agora,
que nos deixou livres para voar, para amar, para morrer.
E que nunca, nunca mesmo, nos olhou torto e nem, tampouco, seco.
Que sempre sejamos dignos de continuar aqui,
do nosso jeito, com as nossas estranhas formas de viver,
que sempre sejamos dignos desse chão.
Mesmo que seja o mesmo chão que já encharcamos de sangue que nem estava pronto ainda, de suor injusto, de dor berrada, de maldade sem perdão, de todas essas ferroadas absurdas que nossa raça humana fez questão de esculpir. Uma atrás da outra, até sempre.
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