Oliveiras centenárias cobertas de neve (Portugal, dezembro 2008)
 


 


EM DEZEMBRO

Em dezembro
Derramo-me em saudade,
Sinto as mãos frias da neve,

Como leves penas de asas d'anjo,
A minha dolorida alma embalar;
O vento gelado da serra

Lamber-me as feridas
Enquanto me assobia as cantigas
Que um dia me fizeram nanar…


Quando dezembro chega
Trazido pelo frio vento

E a neve veste as oliveiras,
Enregelando as últimas andorinhas,
Congelando os frutos maduros,
Embranquecendo as sumidas folhinhas,
Abraço a nudez do cíclico tempo
Amontoado num cesto repleto
De azeitonas negrinhas…
 
Em dezembro
Quando o canto dos negros melros
Entoa por entre as agulhas dos pinheiros,
Aquecem-se as mãos  geladas
No aconchego de uma lareira
Onde os afetos permanecem
Na serenidade dos madeiros,
Na luz da velhinha candeia
Que não cansa de alumiar...

Não sou desse tempo agora,
Sobeja-me um tempo que chora
E jardins ainda por plantar…

 
Nos muitos dezembros já idos
Mora um profundo
E latente grito
,
E todos os natais
Da infância
Vivem numa velha
Casinha branca
,
De grossas paredes
De granito…
 
Em dezembro
Atravessa-me a saudade
De inesquecíveis afagos
E mãos cheias de ternura...

Todos os anos, por esta altura,
Gostaria de dizer as palavras de amor
Que ficam retidas na lágrima que cai
E me inunda a alma que se esvai

Em pétalas rubras de dor…
 
Quando chega dezembro
E o vento norte
Sopra sem cessar,

A neve que cai de mansinho,
Ainda ilumina o meu caminho,
Como a alva luz do luar...


Desejo a todos um feliz 2015!


Ana Flor do Lácio
 
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 20/12/2014
Reeditado em 20/12/2014
Código do texto: T5075777
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