Cântico de Arrependimento
[Poesia encontrada, perdida e achada num sanitário de um sanatório muito particular]
Já não posso suportar o peso da decisão, do sufrágio
Não tenho descanso em meu espírito por tua carne
Ainda sinto, fresca e suave
A fragrância que emanava de teu corpo
A tua respiração frágil
Quebrada pela força de minhas mãos em teu pescoço
O meu terno salpicado com teu sangue
Rijo, o meu corpo sobre o teu
Indeciso sobre o próximo ato
Guardo a minha inocência em teu segredo
No amor que não me destes a provar
Vejo as provas, analiso os fatos
Toda a pureza se entorpeceu
Com o delírio insano de meus passos
Saibas ainda, ó minha amada
Que às noites ponho a flagelar-me
A lembrar dos teus olhos frios
Do teu peito pálido
Da inanição que não era tua
Ao contemplar tua figura nua
Desfigurada pelo meu machado
Jamais amarei a outrem
Jamais me deixarei cegar pela formosura
Pois contemplei de forma crua
A dor da beleza mutilada
O remorso do cadáver do meu bem
A navalha do desgosto que me fura
E me leva a uma última facada