COLHENDO ESTRELAS

Será assim, amor,

o acorde fundamental soará

da garganta do anjo da Terra

e as pedras, e as pedras e as pedras

dirão palavras indizíveis

e uma desolação pré-humana se fará ouvir

na inquietude dos momentos em que o silêncio

é denúncia.

O dia final

será marcado pela pressa,

mas de nós não esperem desespero ou pesar,

caminhemos loucamente devagar

a eternidade é a medida dos nossos planos

e você dirá que o esquecimento é meu,

e dirá quem é o responsável pelas falhas nos sistemas matemáticos

que sou eu, assim como dirá qual o preço e o modelo das almas do mercador

e dirá que já não saqueio supermercados por ser um rico traficante de mentiras

em algum ponto da América Futura

Mas dirá.

É sina,

o que é incondicional porque cólera

quando a chama é tudo o que resta

de nudez na transformação,

e a síntese é mulher colhendo estrelas

pelas noites enfeitadas de cio nos abismos colossais,

quando aconchegante é a ironia do nosso amor marginal

dançando sobre as pedras numeradas da estrada

quando a mudança se apresenta pelos sinais

que surpreendem aos incautos porque muito antes

assaltamos os bancos da alma e da razão