Consequências

Quando você atirou-me, morri,

Apesar de estar de pé agora

E de você não ver o sangue

E para que não que se zangue

Não te digo que, morto ali,

Virei, pois, zumbi noite afora

Quando você saiu pela porta

Não entendi nada em absoluto

Fiquei a olhar no fundo de quem sou

Para ver o que sobrou

Mas tinha a consciência morta

De um zumbi tão pouco arguto

Quando você já longe seguia

Injetaram-me numa veia

Um líquido viscoso, palavra

Aquela com a qual se lavra

Toda esperança, toda fantasia

E o meu sangue virou areia

Quando você me ligou, morri de novo

Mas já estava morto, e o teu tiro

Acertou a carne dura

Atravessou a fechadura

E, como um zumbi, tudo absorvo

Em meu corpo num suspiro

Quando você foi ao meu velório

Eu queria pular do caixão

E te estrangular, sabia?

Mas por mais que tentasse não fazia

Desde que saí do sanatório

Não controlava minha mão

Quando você veio para ler

Os versos que te fiz

Não havia nada escrito

Nem do tempo do amor bonito

Que eu tinha por você

Nem das paixões infantis

Quando eu achei que você se importava...

Você virou a cara

Você vendeu meus pedacinhos

Para fazer salgadinhos

Você comeu-me sem saber o que provava

Você comeu-me? Meu Deus, tomara!

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 14/12/2014
Reeditado em 14/12/2014
Código do texto: T5068880
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