Consequências
Quando você atirou-me, morri,
Apesar de estar de pé agora
E de você não ver o sangue
E para que não que se zangue
Não te digo que, morto ali,
Virei, pois, zumbi noite afora
Quando você saiu pela porta
Não entendi nada em absoluto
Fiquei a olhar no fundo de quem sou
Para ver o que sobrou
Mas tinha a consciência morta
De um zumbi tão pouco arguto
Quando você já longe seguia
Injetaram-me numa veia
Um líquido viscoso, palavra
Aquela com a qual se lavra
Toda esperança, toda fantasia
E o meu sangue virou areia
Quando você me ligou, morri de novo
Mas já estava morto, e o teu tiro
Acertou a carne dura
Atravessou a fechadura
E, como um zumbi, tudo absorvo
Em meu corpo num suspiro
Quando você foi ao meu velório
Eu queria pular do caixão
E te estrangular, sabia?
Mas por mais que tentasse não fazia
Desde que saí do sanatório
Não controlava minha mão
Quando você veio para ler
Os versos que te fiz
Não havia nada escrito
Nem do tempo do amor bonito
Que eu tinha por você
Nem das paixões infantis
Quando eu achei que você se importava...
Você virou a cara
Você vendeu meus pedacinhos
Para fazer salgadinhos
Você comeu-me sem saber o que provava
Você comeu-me? Meu Deus, tomara!