Brava gente.
Vida simples tem o povo deste meu sertão,
gente curtida pelo sol, quem planta a terra.
uma planta teimosa brota, morre e renasce.
Um gato espreguiça no canto da cozinha,
olhar atento na carne que será lançada.
O fogão de chapa de ferro feito de barro,
panela de pedra sabão com o cheiro bom,
preta como carvão ferve segredos da roça.
Um bule esmaltado verde com o café preto,
adoçado com a rapadura da cana caiana,
esmagada na engenhoca mela minha cara.
A noite mais parece um grande presépio,
são os vagalumes em bandos pelo terreiro.
Ouvem-se cantos noturnos, meus medos.
uma lamparina a alumiar a casinha branca.
Os velhos contam os causos no banquinho,
são todas assombrações da minha infância.
De manhã a neblina esconde as casinhas,
tudo translucido em volta daquela serra,
quando se inicia a jornada destes bravos.
Ouvem-se cantos já longe desta marcha,
pés descalços pelos caminhos orvalhados,
levam um embornal com a matula diária.
Quando cai a tarde, voltam pelo caminho,
que cruza e descruza o rio na sinuosidade
as vezes entram no rio refrescam os pés,
outras se equilibram numa rude pinguela.
Bravos homens regressam com seus sonhos.
Assim é a vida do sertanejo no árido chão,
luta desigual contra a seca para obter o pão.
Toninho.
11/2014
Notas.
Pedra sabão: Esteatito uma pedra caracterizada pela conservação de calor.
Cana Caiana: é uma variedade de Cana-de-açúcar de coloração de colmos arroxeados.
Engenhoca: Pequeno engenho, destinado moer a cana de açúcar na obtenção caldo para os processos.
Lamparina: Pequena lata com um pavio no centro, que boia no azeite ou querosene produzindo luz fraca.
Matula: Merenda, geralmente para uma viagem feita de farinha e pedaços de carne seca ou toucinho frito em torresmo. Muito usada pelos tropeiros antigamente
Pinguela: tora de madeira atravessada sobre um leito de água para servir de ponte às vezes sem proteção lateral.
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Notas devido aos leitores de outros países ou estados brasileiros diferente de Minas.