Hiatus II

Humano, ser

Desmetrificado, descarrilhado, só

Atarantado, atrapalhado, ataviado, sou

Olhos que buscam sentido

Não o verão

Olhos que buscam repouso

Nem no inverno o verão

Tu vai passar e deixar pra lá

Porque é o que fazem todos

Dói, minha alma, dói

Dói ainda mais um pouco

Dói até que a dor se torne parte de mim e eu não a perceba mais justamente por ser parte de mim

Porque não percebo nada do que há em mim

Mas tudo que é de ti percebo

Não como gostarias, mas percebo

Não como é, de fato

Assim como percebi os olhos sorridentes de alguém

E os olhos escondidos que eram os verdadeiros

O mundo me espera e eu espero o mundo

Até quando?

Até que o mundo não o seja mais

Porque quando fecham-se os meus olhos, o mundo não é mais

Tudo que é é a dor

Dói, minha alma!

Dói, minha alma e a memória numa caneca (uma memória de olhos sorridentes e uma noite de brilho)

A vida é uma eterna sucessão de hiatos que terminam pela metade

O que foi não será mais, ainda que seja muito parecido

Assim como eu sou muito parecido com quem eu fui há cinco anos

Tão parecido que quase dou por derrubada esta minha teoria completamente não científica

Dói, olho meu!

Dói tudo que é meu, o mundo inteiro e tudo que não vai voltar

Eu sou o adeus que não foi dado

Tu és o abraço apertado

Juntos somos jangadas num oceano imenso

Unidos pela água da memória, é tudo que penso

Eu sou a dor de cabeça

Tu és a dor de estômago

Juntos não somos o que queremos ser

Por isso estamos ligados apenas pelas águas da memória

Mas será que só eu terei que remar para te ver um pouquinho mais de perto de quando em vez?

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 13/12/2014
Reeditado em 13/12/2014
Código do texto: T5067915
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