O Espírito das Águas Prisioneiras
Luciana Carrero
“E a fonte a cantar chuá chuá
e as águascorrer chuê chuê
Parece que alguém que cheio de mágoa
deixasse quem há de dizer a saudade
no meio das águas rolando também” (cantiga popular)
Minto não vou usar pontuação e uso
Minto água é liberdade
placidez no pote não acreditem em mim
Minto a loucura que não ousas provar porque não ouves
as tuas vozes sou o alter-ego da morte que me pariu
o egoísmo humano que só quer tua atenção
Por isso vivo e escrevo sandices
A água gemeu no pote
plácida me ageito dentro de ti
me bebem de ti me consumo
Te quebras me derramo
esparramo evaporo e choro
morro de derrame ora vejam
a morte água de derrame
Choro sou lágrima
Vou ao chão
séco na terra árida
Fico tempo em ti
me gosmento
evaporo
dessedo mosquitos
do Aedes do
Egito
a querer-me limpa
Ai que perrengue
Não recolhida
na submissão
me esfacelo
nos caminhos íngremes das rochas
Colhida desapareço
no pote a que me amoldo
Poetas me dizem submissa e morro
Me dizem rebelde e me relatam nas rochas
nas ondas bravias do mar
Sou vida que morre no sal do mar...
Abre-se a torneira e solto um grito
arrepio a mediunidade
Berro, salto e o copo comigo
se esfacela
Sou entidade que te arrepia?
diz o trovão à mente insana
do alter-ego do macaco do poeta
Sou o espírito das águas prisioneiras
Presa estava viva
Sôlta você me assassinou
E você me assassinou
Assassinou
Assassinou
Assassinou