mais uma gota de sangue
por muito tempo
levei mordidas do mar nas mãos e
apertei os dedos com força
para que não visses
os ímpetos.
em meus dedos faltam pedaços,
mas o que você sugere
é impraticável.
tal como a lua,
para o mundo, nada muda.
tudo segue,
menos pra quem escreve.
se tilinto em copos de bronze
ou se lavo a cama de rasgos
e letras de escarlate,
nada muda para a imobilidade,
mas a entranha torna-se sagrada
nos minutos de palavra.
o que pedes é impossível.
o poema deve ser,
nem que seja aos gritos.
ele mina de mim, espesso,
e vem pelos olhos, pelos ouvidos,
pelas narinas... ele mina
de mim pelos dedos.
eu não decido.
além disso
o silêncio não pode ser eterno companheiro.
aonde ele reside pra sempre
algo desiste. e bem que eu disse
que já tenho solidão silente;
nunca me olha de frente
mas me ataca com facas
no meio de gente.
na palavra e depois da palavra,
sou mais que contente;
sou suspiro de alívio,
grito incontido,
amor veemente.
sou cicatriz
de sobrevivente.