PODE SER QUE SIM

Fico na janela sob a luz

Meu reflexo assombra os gatos na rua.

Penso em ir embora para longe

Ou deitar na cama e ficar quieto

Um pouco morto, um tanto louco.

Posso dormir e sonhar

Meu espírito viajar pelo mundo

E modificar a história,

Como quem brinca de escrever

Como quem pinta para tentar viver.

Não decido nada!

Lágrimas descem pelo rosto

E molham a janela do andar de baixo.

Os ratos passeiam na calçada

Divertem-se com os lixos das casas,

Entram no bolso de um homem caído.

Serei eu? Talvez seja você.

Nosso desespero atinge outras pessoas

Mesmo com suas cortinas de proteção

E seus relógios apressando o final do ano.

Ainda não foram para sempre as nuvens.

Talvez chova amanhã

Ou nunca mais se possa beber na goteira.

Não solicito o consolo porque a noite é amiga

E me basta para entender o quanto tenho errado.

Levo socos e empurrões,

Sou arrastado pelo corredor e jogado na lixeira.

Alimento os ratos e continuo assombrando os gatos.

De que lado apontar a arma?

A lua acompanha o alvo e arranca meus olhos,

Um poeta cego madruga ao meio-dia

E seduz o morcego a um namoro.

Vejo tudo mais claro e longe agora.

O homem costura seu bolso e levanta,

Uma barata sobe por minhas pernas

Enquanto abro a gaveta do armário,

Não encontro mais insetos nas gavetas

E o ar parece que está puro.

Os gatos chamam por mim

Desassombrados,

Os ratos seguiram o som de outra flauta.

Pode ser que não!

Ricardo Mezavila

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 09/12/2014
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