Sinfonia do Amanhecer
imaginar-te de sonho em sonho
num desalinhar lento que descortina a vida
e sentir o pelo ascender ao desejo
o eriçar, o sucumbir dos teus gestos no meu corpo
no deslizar suave das mãos, destilando em chamas
a ardência que afugenta a palidez da pele
tingir em rubor e intensidade uma paixão,
inserir entre olhares e penumbra
um sorriso adocicado que antecipa
o êxtase do gozo premeditado
o cerrar dos olhos, nossos vultos
tatuados em sombras na parede
um gemido a fugir dos lábios
e dar lugar ao beijo, teu sabor
um momento inequívoco
de pertencer-te parte a parte
minhas entranhas a apalparem-te
e receber-te pulsante, pleno de mim
o meu olhar ao te sentir louco e alucinado,
invadindo a calma do sorriso,
e um furor num deleite atentado
premeditado e impossível
pereniza o momento em eternidade
de em teu corpo infinitas vezes
sonhar e fazer-te poesia,
dedilhando, poro a poro, os versos
que rimam com nosso desejo
mistérios, que desfolhados no destilar do tempo,
executam, pele a pele, esplêndida sinfonia
numa harmonia que celebra
em toques celestiais e delicados
o paradoxo do clímax consagrado
da sorte e presente de existirmos
mutuamente impossíveis e enlaçados em fantasia,
onde um suave e lenitivo amanhecer
revela-se por entre o balançar da cortina,
quando a manhã nos brinda em leve brisa
uma caricia, meu corpo unido ao teu
é quando olhas o final das palavras
e percebes que já sou eu a fazer parte de ti
e é assim que perecemos os dias
unidos e em silêncio