Cenas de um crime

Se quiseres o meu resto

O que sobrou de minha vida

Desfigurada pela lâmina depressiva,

A que corta o belo na fonte

Sem culpa pelo crime.

Se imploras de mim o que ficou

Quando muito algo escrito às pressas

Mas que faz algum sentido

E que agora, mais que nunca,

Parece imortalizado pela minha queda.

Se sonhas com um príncipe sujo

Vagando pelos bares dos subúrbios

Pedindo vodka em troca de insultos

E que não sente vergonha de ser pequeno,

Que bebe a saliva dentro do copo

E sangue em garrafas de gin;

Um operário da tristeza

Na tarefa árdua de sustentar uma falsa alegria,

Que despenca do alto da frieza familiar

Como uma guilhotina sobre os dedos do músico,

Uma fagulha sobre o arsenal de bombas.

Se procuras por um pedaço de pele

Que ainda não havia bebido o suor

E que morreu de sede em pleno calor,

Ou a carne de uma festa suicida

Estragada diante da fome de virar logo um cadáver,

Um passageiro derradeiro

Limitado pela sobrevivência impossível

Em meio a essa horda de “humanicidas”.

Você quer ser o sopro do meu coração

Ou a cárie do meu dente?

Pousas o tem amor sobre as sobras do meu pensamento

E cultiva por um tempo a minha memória,

Já que as cinzas pertencem ao vento

E dele não se pode tirar as crias.

Se acima de qualquer pecado por mim divulgado e sentido,

Ainda assim estiveres interessada por mim,

Junte então todos os escalpos

E faça um brinde ao esquartejado

Sem ouvir as testemunhas ocultas

Ou fazer perícia em um macacão manchado de sangue,

Senão seriam presos como suspeitos de homicídio

Todos os entregadores de carne.

Ricardo Mezavila

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 08/12/2014
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