guadalúpedes
caminho
pelo ponto final
de muitas almas
de histórias interrompidas
pelo desespero
pelo dinheiro
pela cachaça
pela vida
vem aqui, Leão!
e o homem divide
meio pastel
que pegou do chão
com o cachorrinho
outro, de rosto ferido de briga
fala que ainda dá pra ser feliz
pois ganhou um copo de vinho
de garrafão
de uns guris
enquanto,
uma senhora
vai de lixo em lixo
como se fosse
um colibri
e passa a mão na barriga
que avisa
já passou da hora
está caindo a tarde
e, pelos cantos
eles vão
em vão
se agrupando
buscando no sono
algum sonho
que os afaste
do abandono
um deles
que me observava
desde o primeiro verso
e que não consegui definir
se era homem
ou mulher
quis saber
por que eu estava ali
então, parado
e antes
que eu pudesse responder,
perguntou
em que ano estamos?
respondi 2010
e ele, ou ela
é,
meu filho ia fazer nove
jesus o levou
tinha de ser eu
tinha de ser eu
tinha de ser eu, diabo!
e vi um mapa
de picadas
em seus braços
meu ônibus chegou
e eu só pensei em agradecer
àlguma divindade
pelo que não sou
pois vi em todos aqueles olhos
uma tela de sentimentos
outrora dominantes nos meus passos
mas, em nenhum vi a força
que me fez levantar a cabeça
e fugir de ter
até a sombra
mutilada
o motorista deu a partida
e, pela janela,
ainda vi dois meninos
e uma moça
abordando uns fiéis
que chegavam na igreja
cuja santa
também nomeia o terminal
a indiferença foi tanta
que me pareceu
que os três já eram vistos
como peças do cenário local
como se fossem outros pombos
ou viralatas
o ônibus fez uma longa volta
para então seguir seu curso
o que me fez rever
quase todos os figurantes
daquele filme
quase mudo, cego
absurdo
então, lhe pergunto
poema amigo:
o que estamos fazendo aqui
neste plano?
estamos vivendo
em recorrente castigo
se não me engano
decorrente de alheios
erros de gravatas
(no entanto,
por nossas escolhas
: eis a errata)
quando pensava no verso seguinte
ouvi a cobradora dizer para alguém
não tenho troco pra vinte
e o motorista berrar
meu deus!
antes de quase afundar nos freios
deixei cair meu lápis
voaram minhas folhas
& as palavras ficaram
caladas
:
uma mulher descalça
com um pequeno entre os seios
atravessava o sinal vermelho
quase que
na estrofe errada
caminho
pelo ponto final
de muitas almas
de histórias interrompidas
pelo desespero
pelo dinheiro
pela cachaça
pela vida
vem aqui, Leão!
e o homem divide
meio pastel
que pegou do chão
com o cachorrinho
outro, de rosto ferido de briga
fala que ainda dá pra ser feliz
pois ganhou um copo de vinho
de garrafão
de uns guris
enquanto,
uma senhora
vai de lixo em lixo
como se fosse
um colibri
e passa a mão na barriga
que avisa
já passou da hora
está caindo a tarde
e, pelos cantos
eles vão
em vão
se agrupando
buscando no sono
algum sonho
que os afaste
do abandono
um deles
que me observava
desde o primeiro verso
e que não consegui definir
se era homem
ou mulher
quis saber
por que eu estava ali
então, parado
e antes
que eu pudesse responder,
perguntou
em que ano estamos?
respondi 2010
e ele, ou ela
é,
meu filho ia fazer nove
jesus o levou
tinha de ser eu
tinha de ser eu
tinha de ser eu, diabo!
e vi um mapa
de picadas
em seus braços
meu ônibus chegou
e eu só pensei em agradecer
àlguma divindade
pelo que não sou
pois vi em todos aqueles olhos
uma tela de sentimentos
outrora dominantes nos meus passos
mas, em nenhum vi a força
que me fez levantar a cabeça
e fugir de ter
até a sombra
mutilada
o motorista deu a partida
e, pela janela,
ainda vi dois meninos
e uma moça
abordando uns fiéis
que chegavam na igreja
cuja santa
também nomeia o terminal
a indiferença foi tanta
que me pareceu
que os três já eram vistos
como peças do cenário local
como se fossem outros pombos
ou viralatas
o ônibus fez uma longa volta
para então seguir seu curso
o que me fez rever
quase todos os figurantes
daquele filme
quase mudo, cego
absurdo
então, lhe pergunto
poema amigo:
o que estamos fazendo aqui
neste plano?
estamos vivendo
em recorrente castigo
se não me engano
decorrente de alheios
erros de gravatas
(no entanto,
por nossas escolhas
: eis a errata)
quando pensava no verso seguinte
ouvi a cobradora dizer para alguém
não tenho troco pra vinte
e o motorista berrar
meu deus!
antes de quase afundar nos freios
deixei cair meu lápis
voaram minhas folhas
& as palavras ficaram
caladas
:
uma mulher descalça
com um pequeno entre os seios
atravessava o sinal vermelho
quase que
na estrofe errada
23/01/2010