MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
Brotos malígnus
 
 
Os lábios percebem
De longe o perfume
Do alecrim
O vento emana
As dores sentidas
Partidas
Como a mãe de todas
Paridas
Entre todas
Apenas mãe das formas
E do fim
Cresce o desencanto
As raptoras do vale
Voltam trazendo
A novidade
A nova idade
É o pedido feito
O grande algoz
Quer o leito
Da matriarca
Onde Dévora deverá
Ser eleita
Rainha de luz
Da Ordem do ventre
Lilith deverá partir
Seu séquito
E tudo que é antigo
Serão as pedras
Que deverá levar consigo
As águas turvas que banham
A ilha
Onde os abutres
matam a fome
abrigará sua sina
as carnes loucas
do rescaldo
as mortas e todos
os andarilhos sem voz
as impuras adotadas
pelo inverno
os que não vivem
na margem
será sua viagem
de volta a caverna
Seth amaldiçoa
o tempo que vive
quer a crise
do tempo que voa
quer a coroa dos pólens
sua nova serva
p’ro oráculo das eras
Lilith
Desfaz a posse
Das visões que tem
O portal fechado
Abre o verdadeiro
O falso vive
No mundo alado
O que vem com elas
Traz um recado
A muito esperado
Deuses guerreiros
Possuídos de mágoas
Trazem águas poluídas
De suas vontades
O banquete prenunciava
Dévora ninfa-arteira
foi usada
desde o princípio
tudo teve início
na mesa posta
da mestra
as frutas colhidas
o vinho servido
o teatro os lobos
famintos
a cegueira postiça
as dores de parto sentidas
vozes ouvidas
o que desapercebeu
passou como vulto
o culto trazendo
 o doce veneno
A Única não era
A nova virgem
Virgem porque era
A menina escolhida
Debaixo da túnica
Havia um verão
Querendo explodir
O coração já pertencia
Ao mestre da imensidão
Do submundo
O fundo do quadro
Estava nublado
As gotas serenas
Antes gotas de orbalho
Eram os tiranos
E os hilários
Servos do enredo
Espantalhos
Num campo de corvos
Vigiando todo segredo
O propósito da Ordem
Foi desafiado
Abrirá o portal
Deixará entrar
Quem quer matar
O fim está próximo
Lilith aceitou a guerra
O  Aliém gritará
Pelo último imortal
Os ecos do abismo
Vingarão sentidos
A frieza da dama
Que transmuta
e anoitece dias
Não será uma luta
Entre bárbaros
E rapineiros
O crime não possui dívidas
Quem tem a fome
dos séculos Encarnados
Engole estrelas
Já nasce com vida
insipidus, qui misaligns
voluntatem meam
semper apparet in somnis
... dies in oculis meis
Mãos estiradas a frente
Clama Lilith
Que todos presentes
Pressentem
A morte não ouve lamúrias!