Tempestades
Vinham tempestades, fortes, turbulentas
Em mares revoltos de paz adormecida
Três barcos fúnebres enterravam meus lábios no azul
Da tua boca fria pedindo novamente o calor
Sorria e chorava em frações doentias de segundos
Ia desmorrendo na seda suave do teu corpo
Que me exalava devagar
E enxugava minhas lágrimas secas pela dor
Fechava-se a cortina
Abria-se teu corpo, implorando pela carne
O sangue jorrava, litro, doces
Em que te afogavas num gozo lúcido de desejo
Ia te devorando em prantos nítidos
Com sombras desfiguradas dançando pela parede
A caçoar dos atos involúveis nossos
Chama quente, queimava à vela
Tuas palavras desaparecidas na poeira das horas
Vento das frases não ditas
Meu coração, fraco, por fim
Explodiu em prazer interminavelmente infinito
E ficou o gosto da sua boca, o sabor da sua saliva
A textura da sua mão sobre meu rosto
Profundamente no verde vazio dos teus olhos
As lembranças terminam
Quando o sol volta a nascer