Santuário
O homem entrou devagar
Na hora da ave-maria
No bar de muitas Marias
Pediu licença aos presentes
Parecia transparente
Porque respostas não ouviu.
Nem deu bola para o descaso
E como que por acaso
Tirou do bolso um rosário
E pôs-se a rezar o terço.
Uma parte dos presentes
Acompanhou fervorosa
Porém a maior parte
Chegou a pensar em descarte.
Onde se viu fazer reza
No bar das muitas Marias
Lugar de fácil prazer
De amor a preço baixo?
Diacho de homem inocente
Quando viu chegar as moças
De olhos e bocas pintadas
Pensou que seria festa...
Segurando o rosário
Esperava o momento
De fazer o agradecimento
Pelo pão de cada dia,
De repente sua retina
Viu-se toda iluminada
Quando percebeu ao lado
A moça de tranças douradas.
Os olhos cor de amanhecer
Brilhavam feito o orvalho
Que salpica as manhãs
Nem parecia pagã...
A moça de face amena
Recebeu no seu batismo
O nome de Madalena
Pecadora desde sempre,
Não parecia contente...
O homem feliz da vida
Sentiu a alegria incontida
Desejou ser uma brisa
Um punhado de estrelas.
A cor do amor que nasce
No meio das pedras frias
Entre os copos e corpos
Tortas proles e muitos goles...
Juntou a força na marra
Segurou com toda a garra
O rosário abençoado
E diante de tantos sorrisos
De abraços e beijos furtados
Apresentou ao Criador
O lugar abençoado...
Madalena chorou fundo
Queria evaporar-se
Deixar de vez o submundo...
O homem de nome Pedro
Estendeu-lhe o rosário
Pediu que contasse as contas
Que rezasse a Ave-Maria
Para a mãe do Redentor
E mãe de todas as Marias...
Madalena cabisbaixa
Estendeu suave as mãos
Rezou baixinho a prece
Pediu a Deus Pai a fé
Pediu perdão aos seus pais
Na hora do nome do Pai
Lembrou-se dos esquecidos
Quando invocou o filho
Sentiu recobrar o encanto
Ao fazer o sinal da cruz
Orou pelo Espírito Santo...
As Marias silenciosas
Puseram-se todas a rezar;
Quando findou o terço
Rolaram muitos abraços
Solidários, fervorosos
Até acabar a dor,
A tristeza e o cansaço.
O verdadeiro sentido
De que somos todos irmãos
Despertou naquelas almas
A paz, o amor e a fé...
E o bar das Marias perdidas
Palco de tantas pelejas
Transformou-se em santuário
Sob as preces fervorosas
Desfiladas no rosário.
Ana Stoppa
O homem entrou devagar
Na hora da ave-maria
No bar de muitas Marias
Pediu licença aos presentes
Parecia transparente
Porque respostas não ouviu.
Nem deu bola para o descaso
E como que por acaso
Tirou do bolso um rosário
E pôs-se a rezar o terço.
Uma parte dos presentes
Acompanhou fervorosa
Porém a maior parte
Chegou a pensar em descarte.
Onde se viu fazer reza
No bar das muitas Marias
Lugar de fácil prazer
De amor a preço baixo?
Diacho de homem inocente
Quando viu chegar as moças
De olhos e bocas pintadas
Pensou que seria festa...
Segurando o rosário
Esperava o momento
De fazer o agradecimento
Pelo pão de cada dia,
De repente sua retina
Viu-se toda iluminada
Quando percebeu ao lado
A moça de tranças douradas.
Os olhos cor de amanhecer
Brilhavam feito o orvalho
Que salpica as manhãs
Nem parecia pagã...
A moça de face amena
Recebeu no seu batismo
O nome de Madalena
Pecadora desde sempre,
Não parecia contente...
O homem feliz da vida
Sentiu a alegria incontida
Desejou ser uma brisa
Um punhado de estrelas.
A cor do amor que nasce
No meio das pedras frias
Entre os copos e corpos
Tortas proles e muitos goles...
Juntou a força na marra
Segurou com toda a garra
O rosário abençoado
E diante de tantos sorrisos
De abraços e beijos furtados
Apresentou ao Criador
O lugar abençoado...
Madalena chorou fundo
Queria evaporar-se
Deixar de vez o submundo...
O homem de nome Pedro
Estendeu-lhe o rosário
Pediu que contasse as contas
Que rezasse a Ave-Maria
Para a mãe do Redentor
E mãe de todas as Marias...
Madalena cabisbaixa
Estendeu suave as mãos
Rezou baixinho a prece
Pediu a Deus Pai a fé
À mãe Maria a força
A Jesus a tolerância.Pediu perdão aos seus pais
Na hora do nome do Pai
Lembrou-se dos esquecidos
Quando invocou o filho
Sentiu recobrar o encanto
Ao fazer o sinal da cruz
Orou pelo Espírito Santo...
As Marias silenciosas
Puseram-se todas a rezar;
Quando findou o terço
Rolaram muitos abraços
Solidários, fervorosos
Até acabar a dor,
A tristeza e o cansaço.
O verdadeiro sentido
De que somos todos irmãos
Despertou naquelas almas
A paz, o amor e a fé...
E o bar das Marias perdidas
Palco de tantas pelejas
Transformou-se em santuário
Sob as preces fervorosas
Desfiladas no rosário.
Ana Stoppa