DESASSOSSEGO
guarde bem a companhia
das malas vazias
das poucas viagens
dos minguados dias
das noites em que me fitavas
em suas tolas espionagens
sondando-me a respiração
como se esta fosse um dialeto
a sussurrar segredos secretos
e outros nem tanto
teu olfato analisando-me a transpiração
como se de outro corpo tivesse capturado o almíscar
e tivesse feito dele meu perfume predileto
guardado, imaculado, num canto
guarde bem a companhia
das emoções arredias
das paixões desatadas
dos ensolarados dias
e das noites sombrias em que me querias
res dominada a ferro marcada
ruminando promessas de amor a teus pés
como se estas levantassem paredes
e lançassem todas as redes
e outros artifícios
teus dedos ligeiros contra as marés
como se de outro corpo houvesse em mim o decalque
e tivesse que encará-lo decorando aquelas paredes
e todos os outros edifícios