Só Um Retrato
Pintei uma casa, cada cor cobria falhas
Peguei na enxada, como se a ausência do mato
pudesse branquear os dias
Olhei-me no espelho da vida
perguntando-me onde estive
Andei por cômodos tão vazios, mas tão vazios
que nunca mais haverão de serem preenchidos
Aceitei tal estado de tamanha forma, que não
desejo modificá-lo. Permaneçam!
Caminhei pela sala... Porque uma parede azul?
Olhei os quartos... Porque tantas camas?
Contei os pratos, sobravam...
Contei os anos e os olhos não sorriam
Deveríamos saber mais sobre onde nos conduz
as estradas
Princípio, meio e fim
Perpetuamos o meio em nossa inocência
Meu estômago revira, queria vomitar a consciência
Queria mesmo vomitar a consciência
Mas tudo que permanece é um estômago a revirar
Melhor seria se no início tivesse visto o fim
Teria feito isso tomando um café
Escreveria a vida exatamente da mesma forma,
mas não precisaria vomitar no vazio a consciência
de que não fui eu a construí-lo!