Tarde de Verão
Uma dura chuva vai cair sobre as pessoas da cidade
e vai bater como uma estaca no asfalto fumegante,
no meio da tarde, no meio do verão.
A fumaça vai subir ao som das buzinas desafinadas,
e o mormaço passeará entre as pessoas como um cidadão qualquer,
que entra numa loja e paga sua conta.
Um doce arco-íris vai dilacerar o céu com uma ternura jamais vista,
rasgando a massa de ar poluído e vai refletir sobre o concreto armado
as cores mais singelas que uma cidade pode vestir ao fim da tarde,
e ninguém vai perceber a mudança de cores porque o horário corre incolor,
silencioso e inodoro.
Um sol mais forte vai voltar aos céus para dizer que ainda estava lá
quando tudo aconteceu e, apesar da vista grossa aos fatos,
ele olha tudo com compreensão, distribui os últimos raios de calor
aos pombos das catedrais e, antes de partir,
olha de relance e nota que o arco-íris manchou vários guarda-chuvas.