INSÔNIA
“O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.” – Fernando Pessoa (poema DOR)
INSÔNIA
Cinzas por todo quarto.
Molham paredes nuas de sonho
formas engasgadas
de silêncio e ausências vãs.
O olho no teto.
Vultos do sono
se costuram nos retalhos
da colcha, se esbarram
nas rugas dos lençóis.
Olho desassombrado
sonambulando vigília,
sonegando pálpebras
nessa madrugada sem alma.
O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Entra mais no ébrio das impossibilidades.
Entra mais no osso ressecado
pelos estalidos agudissimos
nas rachaduras da manhã.
Mírian Cerqueira Leite