PENITÊNCIA
Descalço minhas manias
Junto com minhas sandálias.
Gastaram-se no roçar das pedras
Da rua em que tu moravas.
Tantas pessoas me (ou)viram
Por trás de suas janelas!
Tantas me espiaram e riram
Por entre sebes molhadas,
Nos dias de azul-faiança,
Nas noites de gatos-pretos,
Por entre pingos de fina chuva,
Por entre raios cegantes do sol!
Um ir e vir incessante
Em busca de tuas pegadas...
O faro já apurando, sôfrego,
Teu perfume em lojas e cafés,
Em casas ditas suspeitas,
Com medo de nelas te achar.
Os olhos esquadrinhando pessoas
Que costumavas encontrarar.
[ Manias... só manias, meu bem...
Teimas de te amar.
Das vezes em que, talvez, quem sabe,
Não fosse ciúme tentar. ]
Os pés andarilhos, sem tino,
Pecando de cá pra lá!
Agora, descalço as sandálias.
Meus pés precisam sangrar.
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imagem: flickR
música de fundo: " Sweet Dreams "