EU ERGUE, BORDADO.

Minha mão pensa inclina sobre o desenho,

eu ergue palma afinalada. Alongo rascunho

sem descanso, pende o lápis. Não tem paz,

crisol da alma, a linha contínua embaça.

O sinal da cruz na testa marco, pontuo

saber que nada sei: não penso, pensa eu.

Desce o punho cerrado para o lábio mudo

e silencia minha boca outro ponto luz.

Luz da luz sem começo, amor árduo!

Tecido eu, decidas tu. Depois eu conta...

Espalho estrelas na vastidão da mente,

silencio dele a boca, conforta meu coração.

Ai de mim! Começo sempre no fim e agonizo

no parto. Assim acontece de amanhecer dormindo

no bastidor o traço. Não mais animado, nem menos

rascunho... Apenas eu, bordado.

Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 25/11/2014
Reeditado em 17/07/2017
Código do texto: T5048136
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