EN.FRAG.MENTADO

Um, dois, cinco pés no mesmo buraco

Não tenho mais saco para buracos

Para ser sincero, gostaria de parar

Morrer, já morri algumas vezes

Se um dia parei, não me lembro

As palavras não me encontram

Por que não mais me visitam?

Pés de barro, pés no barro

Acordo na lama da cama, imundo

O barro me cobre de vergonha

Nem um banho demorado me salva

Roto, torto, reto, rato da vida

As rugas rugem e a vida me vive

Me atravessa, raspa, rala e range em mim

Quero hoje a luz de um quarto escuro

E a pureza do baixo esgoto dos fracos

Me sinto aleijado do bem viver

A normalidade me persegue, perseverante

A loucura é minha vizinha e amante

E o caos mora no espelho do banheiro

Pedaços desbotados de vida na parede

É tarde. Suicido-me pela terceira vez

A vida arde em meu peito e

O único jeito é saltar de mim mesmo

Sonâmbulo, alma penada à esmo

Nos confins mais externos e distantes

No terror estranho e desconhecido

Que é a intimidade de mim mesmo

Hoje o sabor é a dor, amanhã não se sabe