MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
A cruz no limiar

 
 
São trazidas as frutas
E a colheita
Preparada das ninfas
Haverá um dança
Secreta na sombra
Que a tenda conduz
os olhos
 por de traz da cortina
queimam jarros
de tempero batido
banham as aves
que serão servidas
sobre o tampo de carvalho
onde sentam os algozes
do verão bem vindo
Seth e o Mestre dos Abutres
O Descido colhe
Uma flor do alto
Da velha árvore
Deixa cair sobre a mesa
Há uma adaga posta
No meio do circulo
De doces
Entre as poses
Dos fantasmas que rondam
Os lados
Lilith mantém
Todo séquito afastado
Não haverá banquete
Além desse
Quem dança
É um segredo guardado
O que os olhos veem
Quer também
O que os olhos contém
Quando veem
As troianas recebem
Todas as armas
Recolhem as vestes
Dos reis do charco venenoso
Untam seus corpos
Com óleo de cravo
Deitados sob o luar
Estão todos menos Seth
Seu magma profundo
Dorme um sono
Confuso
Nas eras das lutas
Povoam a terra
Vítimas e permitidos
O que foi banido
Está nele aberto
O séquito se aproxima
Oferece cálices
Do vinho doce das palmas
Catres agora
Desenhados com alegorias
De suas damas nuas
Lilith  permite
Idolatrar a sabedoria
O que ofende os olhos
Desnuda o que se quer
Há outro verso
Que ela ainda escuta
na voz loginqua
Crivado
Das entranhas do perverso

A Luz de Ântar
Brilha no oitavo dia
Depois do cair poente
Desce o céu sem luas
A morte dorme no escuro
O que vem no sereno
Beberá tua vontade

Ântar , Ântar
Quem permite entrar
Em meus sentidos
Gozar em minha alma
Ântar , Ântar
Porque o cego insiste
em não sair daqui
a agonia presente
o que distrai
não se permite ficar
sem sentir o presente
ela se abre
como a castanha
que precisa de mãos
e guarda um sabor
desconhecido por dentro
olham ao lado
 quem diz algo
não tem ouvidos
o Descido percebe o mal
o aroma conhecido
de uma pervetida
violada
debruça os sonhos
do antigo altar
apenas um vulto
onde havia mais
que sombras
visita o quarto da possuída
ela está sofrendo
num canto qualquer
o perfume de mulher
não tinha o mesmo gosto
quando foi servido
o que era tão delicado
e a pele tão alva
usava vendas de linho
e o cabelo trançado
desfez as tranças
quando foi cavalgar
no desatino que viajou
pelo mesmo lugar
retorna as vistas
a mesa
com a certeza dos
corrompidos
o abraço imortal
se viu mortal
entre aquela
e o tenebroso Dionísio
e a risada medonha
que desafia Deuses
Seth abre um céu
De anil
Em meio a escuridão
O que amanhece
Nunca pertence
Ao mundo vigiado
A estrelas continuam
Vivendo
Desde o tempo
Que fui senhor das eras 
A um gosto perdido
E buscado
Sobre todo o vale
Que nenhum outro lugar
Contém
A mescla dos hinos da
Outrora mágica
Sabe daquilo que não quer
Nenhum bem
Meu filhos vagueiam
Na esteira da vida
Entre os terrenos
O mal nascerá
E nenhum outro poderá
Ter mais veneno.