AutoRetrato
Sou feito de ar, movimento o céu.
Meus pés e pernas são morenas como as
nuvens, e a minha cintura é a circunferência
do infinito.
Meu peito é água, navegante nas pedras,
se veste de liberdade, e não aceita as algemas
do ódio, embora abrace o amor, única cria viva
do delírio.
Meu rosto é fogo, serpentino, valente, mas
efêmero: logo passa, tornando-se uma testemunha
a acusar a eternidade: não é possível ser como Deus.
Meus olhos são Terra, fixa, imóvel, inabalável!
Apenas a poesia pode movimentá-los, afinal, a poesia
é a sensualidade das palavras.
Eu sou assim, quatro elementos, mas vazio
por natureza. Conhecer-me é tarefa fácil,
tanto quanto decifrar o nada.
Eu sempre estarei aqui, observando
uma flor a murchar, sentado no
banco do tempo.