AutoRetrato

Sou feito de ar, movimento o céu.

Meus pés e pernas são morenas como as

nuvens, e a minha cintura é a circunferência

do infinito.

Meu peito é água, navegante nas pedras,

se veste de liberdade, e não aceita as algemas

do ódio, embora abrace o amor, única cria viva

do delírio.

Meu rosto é fogo, serpentino, valente, mas

efêmero: logo passa, tornando-se uma testemunha

a acusar a eternidade: não é possível ser como Deus.

Meus olhos são Terra, fixa, imóvel, inabalável!

Apenas a poesia pode movimentá-los, afinal, a poesia

é a sensualidade das palavras.

Eu sou assim, quatro elementos, mas vazio

por natureza. Conhecer-me é tarefa fácil,

tanto quanto decifrar o nada.

Eu sempre estarei aqui, observando

uma flor a murchar, sentado no

banco do tempo.

Lui Jota
Enviado por Lui Jota em 24/11/2014
Reeditado em 24/11/2014
Código do texto: T5046471
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