CHEIROS ARTEIROS.

Desista dos meus murros, das farras, das teclas encardidas da dor.

Desista de ser refém, vão ou torpor relapso.

Desista das flâmulas, dos sebos aflitos, das mãos em riste.

Desista das rédeas, dos sumos, da fé.

Desista das câimbras, dos segredos, do revide do Sol.

Desista de nascer, de servir, de pousar, de surrupiar.

Desista das minhas mágoas, dos cuspes, dos folhetins que nunca escreverei.

Desista de ser fértil, de exibir suas postas de sangue, de ser fiel ao que for.

Desista de resfolegar, de se encurvar, de sorrir, de ir em frente.

Desista das cores, dos tiros, do trono do Rei.

Desista de ser farto, de buscar o perto, de gozar como quiser.

Desista das escunas, dos goles de gim, da ajuda de Deus.

Desista de ser pedra, de buscar abrigo, de ver só pra enxergar.

Desista de ser musgo, de estrear, de dopar o que for.

Desista das palavras, do sono, das sombras, do fim.

Desista de gritar, de semear, de esquartejar o vento, de falar chega.

Desista das alegrias, das manchas do profeta, do cheiro arteiro das manhãs.

Desista de entremear, de cerzir uma paixão, de ser você.

Desista das quermesses, do arco-iris, do véu de noiva.

Desista de estar longe, de mascatear a saudade,

de estrelar as nódoas retintas da paz.

Desista de traduzir a lama, esperar o revide, ouvir a varanda do diabo.

Desista de ser brusco, de desafiar as cartilagens do ódio, de fazer do silêncio o seu capacho fraternal.

Desista dos engomados de festim e das fuligens biscateiras da alma.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 22/11/2014
Código do texto: T5044652
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