Onde estão, donos da terra?
Caiuás, Terenas
Guaranis, Carijós
Ianomâmis
Onde estão,
donos da Terra?
Resquícios de longínquo passado
Refletido na face dos filhos de tantas misturas
Arcos e flechas no chão
Vossos lares, ocas naufragadas de lama,
Para a terra retornaram,
Levando lembranças de guerras, lutas,
semeaduras, conquistas e alianças
Corpos pintados
Musicalidade
Instrumentos únicos
Influências culturais
Linguagem imortalizada
Na pena de tantos imortais
A sabedoria de vossos pajés
Sobrevive na atual medicina
Inda que substancial parte
Passada de boca em boca
Por vocação de vidas
Hoje jazidas, a sete ignotos palmos
Em que folhas encontraremos
Nossas raízes desfalecidas?
Cocares, plumagens, botoques
Transformaram-se em material decorativo
Escambo revisitado?
Onde estão os rituais, totens e danças circulares?
19 de abril, Getúlio instituiu, foi decretado
Um dia especial, dedicado ao índio, iconizado
Não paga a dívida social que tenho, que temos
Com os reais donos da terra
Onde deitamos nossas famílias todas as noites
O reino que chamamos de lar
donde destronamos pela força dos brancos, insanos
“civilizando!?”
... “catequizando!?”
... ... “alfabetizando!?”
... ... ... “humanizando!?”
quem só queria, em paz, o curso da vida trilhar
dentro do senso que sempre soube ser liberdade
sem roupas, sem jóias
sem ouro, nem prata
apenas com corpo pintado
e enfeites de cocos e penas
sorrindo, sem título,
e ao mundo dizendo
sou filho do vento...