Falando dos meus pecados.

Queria falar dos meus pecados,

não daqueles pecados moleques, recém-desfraldados,

mas daqueles pecados encharcados, aflitos, sorrateiros,

tão aventureiros.

Queria falar de um pecado naufragado,

de sorriso pardo, olhar esquecido.

Pecado sem métrica, nem cabresto,

que nos afiançava a alma, engatilhando o asco,

acenando de longe para a morte, talvez para a sorte.

Queria dizer de um pecado franzino,

arteiro como ele só, abandonado num palco,

perdido como nunca se imaginou.

Um pecado gotejado de saudade,

feito pavio curto, feito doce de avó,

feito véu encardido pela falta de uso.

Um pecado que trago dentro de mim

como viajante sem prumo,

andarilho das minhas dúvidas, medos e cores.

Um pecado de mim que nunca mais terei,

nem, quem sabe, untarei o meu melhor nele.

Um pecado falido, destroçado, esmigalhado

pelas palavras que saem de mim feito gozo tardio.

Queria dizer mais dele, mas algo me traga pra

dentro de mim mesmo e faz o calar se levantar do nada.

Chega de pecados, de fados, da mesmice dos

sonhos sem úteros. Chega de pecados que

não se escorrem quando o ar desiste,

quando o tempo senta na beira do rio pra cochilar.

Chega de olhar para trás e ver o o que virá.

Pecados são pétalas avessas que farei desandar

dentro de todos os mins que trago dentro de mim mesmo.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 22/11/2014
Código do texto: T5044565
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