versos
um verso atravessado que parece armadilha com quina pontuda
vamos endireitá-lo para que não machuque um corpo mole
um verso duro contido esmagado e todo sujo de sangue
vamos salvá-lo para que não desvie o olhar de uma dama
um verso moribundo desses em que o poeta quase pula de ponte
vamos convencê-lo pra que o abismo não lhe surja adiante
um verso atrevido com o gosto de uma cereja espremida
vamos alertá-lo para um possível descontrole da libido
um verso doido que cheira a álcool quando parido
vamos com um banho gelado pra que a palavra seja amiga
um verso de amor rico em singeleza e graça
vamos convidá-lo para uma dança na praça
um verso nervoso quebrando silêncio do mais profundo
vamos mostrar-lhe os galhos das árvores que sobem mudos