Consciência Neg....
Conscientizar?
É aceitar que na mídia o colorido é minoria,
é a parte resumida, é o que chamam de anestesia
como folhas mais escuras, recicladas da agonia
como um traço mais largo, que conta da dor e da alegria
como também a piada, o deboche de todo dia
a desvalorização e o descaso com a maioria
Zumbi lutou por bem mais que um feriado, lutou pra essa gente
poder comprar num mercado,
Lutou pela consciência da igualdade, contra a ditadura
que ainda assombra a realidade, que ainda faz a vida tão dura
O feriado não me diz nada, só me faz encarar mais e mais os fatos
Já que é pela igualdade que sejam todos os dias feriados
Que sejam todos os brancos pelo menos um dia escravos,
Que mostrem mais de três opções pro negro na favela
Meus versos negros, em blocos separados,
mostram muito mais que sentimentos, mostram negros segregados
mostram vidas caminhando juntas sem trocar uma palavra
e olhar de nojo, do patrão pra empregada
São versos severos, em favor dos cativos modernos
são estrofes que falam muito mais do que a cota, a assistência
são estrofes de uma pessoa que sabe de onde descende,
que sabe a dor dessa gente, que sabe que lado defende
Para ter o respeito, saber de onde venho
Pra saber que tem gente no morro morrendo de fome,
Para ser reconhecido e saber toda a força que tenho.
Pra ver gente magra demais, enquanto o outro come
Pra ver nas janelas gente que morre de sede
E tanta gente em sampa reclamando de dar uma viagem
Nas lojas, gente da mesma cor perseguindo a gente
E do outro lado, gente que só queria um banho quente
Aqui gente que age como se tivesse uma perna quebrada
Enquanto la, é melhor não reclamar
Pra não criar discórdia, preferir manter a boca calada
Quando me soa consciência, eu pergunto
Onde anda o resto do feriado, é feriado aqui e na África não?
É feriado do negro, e do índio por que não?
É feriado pro branco, mas pro negro aposto que não...
Pra saber que vai além de uma cor, um sangue forte
Pra saber que é muito mais do que só nós, e gente do norte
Pra saber que a consciência também pela xenofobia
Pra saber que a consciência tinha que ser todo dia
Pra saber que é só uma desculpa, e um abraço falso
Pra saber que não adianta minha repetição, amanhã é outro dia
Pra saber que não vai mudar, que é sempre a mesma agonia
Que é pela igualdade, pelo direito, cidadania
Que é não morar num barraco, mas também na África
É só conseguir ver nascer mais um dia
É não negar o motivo da cura do ebola, e aceitar que o mundo é isso
É conscientizar de verdade, e não é oferecer esmola
E pra isso eu não preciso de cor.