AO OCASO DOS DONOS DO MUNDO
O mundo não devia ter nenhum dono.
Só porque,
Passarinhos não deviam ter donos,
O mar não devia ter donos,
As ilhas não deviam ter dono,
Os rios não deviam ter dono,
A água não devia ter dono,
Flores?
Como se concerber o dono das flores?
Donos das primaveras?
Donos das cores e das janelas?
Donos dos mistérios?
Talvez só donos dos monastérios...
Dos cemitérios.
Donos da fé?
Donos da salvação?
Donos da opção?
Praias?
Há praias quu têm os donos das praias...
Donos das ondas...
Das marolas e das tsunames...
O ar não devia ter dono
As ávores não deviam ter donos
Raízes não deviam ter donos...
Nem ao céu, nem ao léu.
Raízes?
Como tantos caminhos tatuados na intimidades da terra poderiam ter donos?
A aurora não devia ter dono,
O crespúsculo não devia ter dono
O ocaso não devia ter dono,
Nem o caos deveria ter dono...
Donos do sol, há?
Sim há os donos do sol e das demais estrelas.
Donos dos anjos e das trombetas!
E como se ser dono dos acasos?
Do timbre do canto dos pássaros?
Donos do vento...há?
Talvez haja os donos
dos parcos bons ventos,
ao milagre dum cata-vento.
Dono das nuvens,
das chuvas,
dos raios,
das tempestades?
Donos das cidades?
Sim há donos das cidades.
Não devia ter tantos donos do nada,
Das tantas insondáveis estradas...
Há os donos das secas.
Há os donos das matas desmatadas.
Donos dos tantos desfeitos mal feitos!
Do pobre ar rarefeito.
Há até os donos das terras rachadas,
E da estiagem empoeirada.
E como se ser dono do horizonte?
Mas há muitos donos dos horizontes...
Que sempre só existem ao longe.
Nada disso devia ter dono!
O mundo não devia ter dono
O planeta não devia ter dono
Nem abandono.
Só a criação deveria ter UM só dono...
O mundo à criatura do Criador.
Porque toda vida é única...
E dona de livre arbítrio,
E é vida doada
à vida de todos nós.