MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
As notas do sepulcro

 
O inimigo dorme ao sol
O cálice quebrado
O tronco envergado
Na descida
Pedregosa
Do que antes vistosa
Corria doces
Gotas do orvalho
Da colina
Cresciam flores
Sem nome
Que o nome seria
Sempre
As coisas do tempo
As pétalas que iam
Desejavam beijos
Aos principes
Que p’ra aquelas
Ninfas era o tudo desejado
Dévora avista
A penunbra falida
As sombras que caminham
O vento vazio
De sentido
Seu grito que as entranhas
Brigam pra chegar
Acima
Dormem de sina
O virtus ainda
Embarca nas aquarelas
Desenhadas
Por Lilith
No que derrepente
Desaparece
As nuvens descem
Ao solo
Cobrem o templo
Com gosto de chuva
Os pequenos charcos
São a bebida
E o que tem por comida
Não há forças p’ra matar
Pomares secos
Ao redor
O desespero
De um rancor
Que a faz abrir suas vestes
Se deixar nua
Aos coiotes do vacilo
Devoram minha carne
E tudo aquilo
Que ainda em mim arde
Não quer o mártirio
Vivendo como saudade
Nas vozes das outras
os abutres famintos
da sobra que não
tem mais idade
se alimentam
do seu mísero corpo
agora embriagado
Dévora se vê sozinha
Morta em pedaços
E cacos de vida
Não aceita o tolo
Como um molde
Construído
Na estrada que seguiu
Não havia mentira
A força quer o dominio
Das forças
Que apenas querem capricho
Depois da fome
Saciada
Deixam-a desacordada
Aos pés do rio
Que agora é um frio
De corredeiras
E limo
O olho da besta
O que chacina
Os desafetos
Acorda no espamo
Antes do fatídico
Afasta o veneno
Que crescia ao redor
A entrega ao convento
Dos perdidos
Onde estão os permitidos
De ficar aos pés
Do Deus-chacal
Recobrem o corpo
Com a lama
Da argila escura
Acendem os incensos
De mirra-agridoce
Preparam o assento
De quem deverá acordar
os mundos
que estão sonhados
dentro dela
desfazer os hinos
de acalantos
que dormem Dévora
não terá a vingança
que crescia
dentro dela
ouve-se a voz metálica
do senhor das guerras
recobrem o rosto
marcado por serem
os ofendidos
agora escravos
o que sai de mim
não devolve a mim
nenhum verme
meus desejos são profundos
quando dos terrenos
crio um mundo
p’ra descer nas eras
o que vingará
terá minha essência...
se calam os ventos
que trazem o aroma
das tormentas
raios que desenham
em nuvens cinzentas
a mágoa por chuva
que acorda Dévora
as Troianas a encontram
sentada sobre
uma pedra
perto do abismo
o que olha p’ra elas
foi ofendido
diamante agora polido
apenas observa
o corvo impera
no silêncio das noites
há uma noite
querendo acordar
dentro dela.