LEMBRANÇAS DE RIOBALDO
(Homenagem a João Guimarães Rosa)
Arenego a natureza do sertão;
de meu saber, ali, não há refrigério.
Pelejei com meu querer todo tempo,
mas no de-mudar só Deus é quem dá.
A alma do sertão está em tudo,
tateado no coro de todos,
tonteando a gente.
Ali, o jagunço não tem de seu
juízo de raíz!
Tudo dissolve todo dia,
não tem onde acostumar os olhos;
o homem é um arisco
e corre o risco de caça virar.
Coisa ruim fica na gente, coisa boa arriba logo!
Por conta do esquecer,
me aconselho com o compadre meu Quelemém,
rezo três vezes o Credo e o Salve Rainha,
depois me deito nos braços de Otacília,
que naquele tempo era noiva minha.
Otacília mel de alecrim,
Otacília e Diadorim.
Otacília remanso do Urucuia e águas bravas,
Diadorim relâmpago, piscar do pensamento,
que espeta e fere fino, mesmo no não querer.
Pele branca e um rir de aprecio,
flor de burutizais,
lembrança do Urutu Branco,
jagunço de cor e salteado,
mas, mais de jagunço, é o sertão.
MANOEL FERNANDES DIAS