LEMBRANÇAS DE RIOBALDO

(Homenagem a João Guimarães Rosa)

Arenego a natureza do sertão;

de meu saber, ali, não há refrigério.

Pelejei com meu querer todo tempo,

mas no de-mudar só Deus é quem dá.

A alma do sertão está em tudo,

tateado no coro de todos,

tonteando a gente.

Ali, o jagunço não tem de seu

juízo de raíz!

Tudo dissolve todo dia,

não tem onde acostumar os olhos;

o homem é um arisco

e corre o risco de caça virar.

Coisa ruim fica na gente, coisa boa arriba logo!

Por conta do esquecer,

me aconselho com o compadre meu Quelemém,

rezo três vezes o Credo e o Salve Rainha,

depois me deito nos braços de Otacília,

que naquele tempo era noiva minha.

Otacília mel de alecrim,

Otacília e Diadorim.

Otacília remanso do Urucuia e águas bravas,

Diadorim relâmpago, piscar do pensamento,

que espeta e fere fino, mesmo no não querer.

Pele branca e um rir de aprecio,

flor de burutizais,

lembrança do Urutu Branco,

jagunço de cor e salteado,

mas, mais de jagunço, é o sertão.

MANOEL FERNANDES DIAS

Academia Betinense de Letras
Enviado por Academia Betinense de Letras em 28/05/2007
Reeditado em 07/10/2007
Código do texto: T504174