REFLEXOS NOTURNOS
No aniversário do meu travesseiro,
Meu corpo, ainda cansado do pesadelo,
Repousava na imensidão do quarto.
O quarto, velho amigo confidente,
Atelier de tantas alegorias virtuais,
Projetava, na parede, os reflexos noturnos.
Os sonhos, em parceria com a ilusão,
Esculpiam, em pedras brutas, jóias raras.
Quando entrava em alfa,
Os visitantes do além vinham constatar,
Se eu estava, de fato, comigo mesmo.
Por trás da antiga veneziana,
Se escondia o enigma das mil e uma noites.
Da vidraça da janela, longínquas estrelas
Transpunham-me para o infinito.
As noites de inverno esquentavam as esperanças,
As noites de verão esfriavam os desejos...
E, assim, o tempo avançava pela vida afora,
Indo se perder na imensidão do nada.
Os valores das coisas da vida
Ainda não valem o preço do meu coração
E viver em paz, os sinceros prazeres,
Vai se tornando o mais nobre privilégio.
No terceiro aniversário de meu travesseiro,
Olhei no espelho do meu quarto
E vi que não estava totalmente sozinho.
Então... Confortei o meu espírito
E adormeci.
DECK CARMONA