MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
As Adagas-mãe
 
 
O espelho d’água
Refletia
Flores ao vento
Voando pelo céu
Agora cinzento
O sol  
Por um olho
Que agora dormia
E derrepente acordava
A temperatura
Caia
Ela era uma sombra
Uma pouca coisa
Que ainda tinha
A mísera impressão
Do que seria
A força debruçada
Em mágoas
O sentimento do fraco
Vem de outro tempo
Outro tempo a possuia
Tantas mentiras
Ela se via vestida
Da pena dos Deuses
Quando dos seus
Que desciam
Sorviam de seu corpo
Todo sentido
A lua de uma face vermelha
Um circulo de fogo
Que chama
O uivo dos lobos
A caça das vítimas
Que ainda meninas
Brincam
Dévora se viu
Dentro de uma cova funda
Que observa
O que lá em cima
Corre um mundo
Imóveis membros
Corpo  vestido de plumas
O anel consumido
Estava preto
E suas veias
Todas vertiam
Um sangue escuro
Podia sentir sua pele
Mas não podia
Sentir o gosto
Estava nua por dentro
o pensar mergulhava
em sonhos
depois acordava sem dia
o odor mais forte
era do norte
que vinha
imergiu p’ra buscar
sua alma
e a fortaleza perdida
abre as janelas
no que vaga por perto
entre vultos rápidos
do voo que fazia
viu suas madeixas
num vaso torneado
pintado de ocre
trançados
como amarras no tampo
contido de uma bebida
parecida pelas gotas
descidas
com um vinho
a sua pureza virtuosa
intacta
persegue a força
que ainda lhe sobra
o olho que cobra
abraça o valente sentido
quebra o jarro
mata sua sede
de uma sede que se esvaiu
dela mesma
os ventos que sopram
derrepente  param
ela desce
as portas do Templo
onde toda Ordem
espera
se abrem
Lilith sentada
Em sua poltrona
De ouro
A risada estérica
Que provoca alaridos
Depois soam zumbidos
Um coral que canta hinos
Canta o alarde de aviso
Estás condenada
Ao inferno
Estará por aqui perdida
O lar das ninfas
Não receberá sua vida
O vale é o recanto
Dos perdidos
Que amargam
Sua afronta a mim
A colina das fontes
Secará ao ver
A rainha das aventuras
Sem sua loucura
Delirante
Chegar ao fim
Minhas portas se fecham
O séquito se dobra
E se curva
A meus desejos
Convoque os apelos
Dos amantes das libertas
Sofrerão da mesma ira
Escolha quem vai morrer
Pra que possa viver
E ser de novo
A serva do próprio caminho
Dévora cai sobre
As escadas de Heras
e limo
Do jardim desenhado
De arbustos
Vê os corvos
Que a observam
Lutando contra seu muro
A face possuída de raiva
Arranca uma flor
Como se o calor
Fosse partir
Deixar a saliva
Mais doce
Do amargo que sentia
Corre na fraqueza
Da morte vindoura
Tolhida de vingança
Por entre os trigais
Por entre quem os colhia
Ninguém socorre
A voz da destemida
Que enfrentou
A morada da Mestra
Que torna a primavera
O berçario
De toda sua eternidade
Adormece entre as papoulas
Que se abrem
Como sinos de
 castelos mágicos
as abelhas sorvendo
como cálice
Olha desapercebida
Deitada
Deixando o fluxo mortal
Caminhar por sobre ela
Abrir de lábios
Querendo pedir ajuda
Aos pequenos alados
Que dela não fogem
Lança suas mãos
Ao encontro do nada
Estrelas que lá de cima
Parecem testemunhas
Que a criptas-mortem
Terá outra
Liberta contida.