O DESPERTAR DA ALMA.


Eram cinco horas,
tudo confuso,no céu
mistura de nuvens
com ouro e prata,
acordei meio carnal,
meio vegetal,
ouvia os gritos da carne,
e gozava os sussurros
de coisas vegetais,
a brisa me adulava
com hálito de bromélia,
no pomar entre corpos
arbóreos os pássaros
acordavam o dia,
e a pobre noite ia
desaparecendo na boca
desdentada da claridade,
canários da terra 
libertavam o gorjeio,
e lá longe o ouro moído
de seus cantos borrava
a barra enferrujada do dia,
na velha mangueira,
o João-de-Barro,
rebocava a casa
com o barro da maromba
do rio,ele me olhava
e eu lia seu pensar,
as águas caiam na bica,
e o barulho da água 
dormia em mim,eu ficava
como leveza de flocos
de algodão deslizando
no tecido azul do céu,
o relógio girou,foi
matando a algazarra,
o pomar foi ficando
humano,subi as escadas
do casébre,a mesa
a quitanda sôfrega
pela velocidade do estômago,
o café na chaleira
suspirava pelo bico,
fui a janela,lá fora
tudo mudado,a natureza
tem tecido de Camaleão,
muda toda hora,
peguei o bornal,
rompi a escuridão
da mata,fui caçar
resquícios da manhã,
no silêncio das matas,
e no canto das águas
que escorregavam
no escuro dos grotões.




 
Angelo Dias
Enviado por Angelo Dias em 17/11/2014
Código do texto: T5038985
Classificação de conteúdo: seguro