Um Poema Faca

Quero um poema faca

que rasgue a carne dos acomodados

e penetre no coração dos traidores.

Um poema que brote da multidão

que não recue, nem faz aliança.

Um poema impessoal

que tenha muitos rostos

pois é neles que sou.

Que meu poema faca

atravesse fronteiras e alcance outros irmãos

que de mãos dadas, derrubem muros e grades

e suas pernas vençam montanhas e rios

e as mãos não assinem tratados nem acordos suspeitos.

Que meu poema faca

corte a corrente da servidão

que deixe de sobreaviso o ser mais torpe de todos; o traidor.

Quero um poema faca

que rasgue a aurora sob bandeiras felizes

e soe a ouvidos infantis

como histórias encantadas.

Quero um poema faca

que desperte no operário sua indignação

que faça tremer o colaborador do patrão.

Quero um poema faca

que fira a terra para que a semente brote

e o camponês tire seu alimento.

Quero um poema faca

que traga à mão o pão repartido

e que o vinho seja de todos.

Quero um poema faca

que rompa a noite e conforte a viúva.

Quero um poema faca

que seja antes de tudo

sincero e fale com o coração.

Quero um poema faca

que expresse o sonho

de que a luta nunca seja em vão.