MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
A neve prematura
 
 
Gotas caídas
e o perfume
Do vento frio
Alucinavam o dia
Que não nascia
A brisa que entrava
A paralisia que ficava
Quem fitava a rua
Derrepente
Não via mais nada
Do que havia visto
No pensamento
Desterra o partido
Que parece vingado
Morto na sepultura
Maldita
Que veio enterrá-la
No interior
De onde estava
Coberta por um jazigo
Aberto
Em meio ao mato
Candelabros de barro
Acesos na entrada
Borbulhavam águas
Em catres
De mármore
O que parecia uma árvore
Que finda raízes
Por cima
Descem folhas tramadas
Em pontas floridas
Por todo lado
Abraçando
Um lugar
Nada povoado
Os cristais refletores
Presos ao teto
Lhe concebiam
Outra pessoa
Que não aquela
Que ainda povoa
Seus sonhos
Tenta gritar
 O que sente por dor
Pudor nascente
De todo furor invadido
O aliena sentido
Desfaz nesta cama
Quer ver-se
No espelho recôndito
Que a alma inflama
A delicada pele
Que agora
Não mais conhece
Como sendo
Ela mesma
Dentro da Dracaema antiga
Untada a uma palha
Verde escura
E ramalhetes
Da mandrágora
Que agora lembra
O sol por entre nuvens
Desperta os sentidos
O calor que desce
Não apaga
Nenhum vestígio
Que a Raptora tenta
Sofrendo
Benzendo o campo
Da cerca
De uma fumaça vermelha
Pedindo que se afaste
Quem mais tarde
Pelos olhos ardentes
Vem vindo
O murmúrio
Ruidor na relva
É uma fala de outra época
Traz a lembrança
O que uma lança
Marcou seu ventre
O que nunca mais
Floresce
Também esquece
De pertencer
E se isola
Se consola na virtude
Que elimina
O sangue que não mais
derrama
O elo que é concebido
Depois
Do que nasce dentro dela
Esta morte
Que não foi nenhuma sorte
Do furtivo que foge
Com todo poder
De tirar o que lhe
Pertence
Desde o início
O destino oferecido
Da Senhora dama da noite
Que dorme o sol
E suga na dor
O que queima
Entre as Evas
Não possuídas
Torná-la a nova
Liberta do seu séquito
P’ra servir sua coorte
Estes passos que o mato
Avisa
Não são os mesmos
Há um ser negro
De olhos acesos
Mãos de unhas compridas
Um pêlo que arrepia
Fitando a agonia
que torna-a presa
o que o  esquisito
inaugura no limbo
Se torna um Leviatã
Do que ela
Tem por conhecido
A possuidora
Da destreza do vale
Armou sua frente
De espinhos ínfimos
Com gotas de veneno
Pra ter o algoz
Dormindo
Enquanto fica
Na espera da Troiana
Que retira a toga
O semblante calmo
Amanhece o dia
Nas vistas da Raptora
Não sabe
Por que traz um dardo
E nem porque
Ela se tornou alvo
Sem que o que é salvo
Provém antes
Da lisura
Que a franqueza ensina
a colher o chá
Trazer p’ra ferver
As dúvidas
Levar sobre a mesa
Escolher uma das
Mãos
Em que a outra
Sinta o coração
 Ver o que 
Não se mente
Na imensidão
Que fica no silêncio
Derrepente a ilusão
Se torna verdade
O inverno que cresce
E as lágrimas que a boca
Deságua
Beijam o chão
A progenitora das orlas
a senhora da Ordem
Ressurge
Encontra Dévora
Desolada
Em olhos perdidos
dúbios da vontade
Que tinha
Lhe oferece um pacto
Beba o sangue
Que corre nas veias
Da eternidade
A outra idade será perdida
Seth sabe da minha
Vontade
E aqui sua vontade
Termina.