Mal incurável
Padeço de mal incurável
Sou feita de tantos pedaços
que eles já não cabem em mim.
Cada um deles deu cria,
vivem juntas a calma e a agonia
entre um gole e outro de gim.
Meus cacos se tocam e se ferem,
se atraem e se repelem
se cortam até o sangue pingar!
Num duelo dos meus eus,
entre sóis e breus
aprendi a caminhar!
Ando descalça sobre pedras,
mas tenho medo das flores...
De onde vem as dores?
Da escuridão das cavernas
ou do universo das cores?
Posso resistir a um vendaval
e ser derrubada por uma brisa...
banhar-me no lamaçal,
embrenhar-me nas urtigas
e sair intacta!
Posso sobreviver ás mil pragas...
Sou aquilo que sou!
Não suporto guerra fria....
A guerra do fogo me atrai
Domo meus instintos animais
na aridez do dia...
Nesse rebuliço incontrolável,
sou quase inimaginável,
mas me trai minha poesia!