Células Sonoras (A Música)

A música mora em mim, aqui,

ali, em cada vão de carne.

A música ecoa nos meus pulmões,

retine, pega a auto estrada das grandes veias,

se define, se nomeia, se lambuza e me recheia.

A música toca meu coração como Midas

e com veludo nas mãos me investigas.

A música passa horas em meu pensamento,

vagabundeando em compasso lento.

Ela cochila atrás dos olhos, existe atrás dos ouvidos.

A música exala de cada um dos meus poros

e expande o aroma de meu espírito sonoro.

Me devora e me sustenta, a música.

A música processa o álcool consumido pelo amor,

pela perda, nos motivos nobres e fúteis,

é minha mão direita, a perna esquerda

me julga e me condena, só as notas me são úteis.

A música destranca minha insensatez,

faz doce da certeza que virou talvez,

alegra-me, leal amiga.

Da parte que me brilha é a única filha.

É a célula morta que se esvaiu a pouco

e nasce em seguida compondo meu canto rouco,

numa só matéria, eu e a música.

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 14/11/2014
Reeditado em 09/07/2018
Código do texto: T5034549
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