Jhonny's Pub
podia ser
a mais fria & chuvosa
das segundas-feiras
ainda assim
sempre estavam lá
: os jovens do pré-vestiba
amontoados
nas velhas mesas
atordoados pela incerteza
poesia ou prosa?
pagando as béras
com seus vetês;
às paredes azuis, vivas
as garotas fumando
desenterrando amores
& versos de MPB
(tipo, "leãozinho"
que mais parecia
uma ode ao mé barato);
alguns cegos
que, em terra de reis
juravam ter visto
o mesmo rato
cor-de-rosa;
a Cléo Punk
que nos arrastava
para a sinuca no Bigode
(outro bareco perto dali)
é, esnuque, piá
e esnuque é pra quem pode
e eu, para ela, todas, perdi;
alguém sempre
mesmo, sempre,
falando da lua;
os estudantes
da escola técnica
exibindo suas
técnicas etílicas antes das seis
enquanto, meu camarada, o Jean
debatia com o Fábio Gadelha
astrologia, contradições
& passagens bíblicas
(o bar ficava ao lado
de um convento
toda hora ali passava, e de nós, desviava,
alguma freira);
a aranha marrom
no banheiro
onde ainda era normal se deparar
com alguma menina
de dedo na garganta
pondo para fora o vinho doce
na, sério mesmo, banheira;
gritalhões no corredor
apostando alianças
no jogo de palito
(que parecia de foices)
observados por alguns senhores
em seus velhos ritos
& sorrisos;
atrás do balcão, o João
alguns o chamavam de Gervão
(que era uma pinga que ele vendia);
então, certa semana
troquei a segunda pela quarta
e eu a vi
aquela guria
que lia Borges
ruivinha
claros olhos
longo vestido escuro
quietinha, na mesa sozinha
eu a vi
larguei as ilustrações que fazia
e levantei para falar com ela
eu ia a pedir em namoro
eu juro
no caminho,
alguém me chamou
olhei para o outro lado
era o Sid,
o sujeito que deixou o mar
a ver navios
ele me congratulou
pelos meus dezoito
completos um dia antes
e, sem jeito com essas coisas
mal eu soube agradecer
quando voltei para o caminho
que, caramba, era de uns dois ou três passos
a guria havia sumido
e ninguém havia a visto
desaparecer
pois não tinha ninguém ali
disse o Seu Branco, ou alguém
que minha memória
não quer mais
reconhecer
e eu nunca mais a vi
os dias seguintes foram frios
com noites de frieza
com perdas, tristeza
como a que levou o chapa Chaiu
ou da do Fabien, que se matou
(muitos entenderam "Fábio",
e achavam que era o Gadelha)
um clima estranho se instalou
até uma noite que o Mais Além
mandou tudo pro além
tocando Beatles
na calçada
foi quando conheci
uma namorada
que mordia minha orelha
mas a leitora de Borges,
mesmo depois do próprio Joãozinho ter morrido
do prédio onde ficava o boteco
ser demolido
do vetê ser extinto
da maioria ter parado com o vinho tinto doce
do Alexandre, o Côco
ter aberto um bar lá perto da Reitoria
e de revivermos tudo
um pouco,
ainda é um filme
centrado naquela pose
de pernas cruzadas
sandálias soltas
páginas viradas
olhar de canto
...
como ela
não se encontra
e se era um fantasma
é um fantasma
e tanto
podia ser
a mais fria & chuvosa
das segundas-feiras
ainda assim
sempre estavam lá
: os jovens do pré-vestiba
amontoados
nas velhas mesas
atordoados pela incerteza
poesia ou prosa?
pagando as béras
com seus vetês;
às paredes azuis, vivas
as garotas fumando
desenterrando amores
& versos de MPB
(tipo, "leãozinho"
que mais parecia
uma ode ao mé barato);
alguns cegos
que, em terra de reis
juravam ter visto
o mesmo rato
cor-de-rosa;
a Cléo Punk
que nos arrastava
para a sinuca no Bigode
(outro bareco perto dali)
é, esnuque, piá
e esnuque é pra quem pode
e eu, para ela, todas, perdi;
alguém sempre
mesmo, sempre,
falando da lua;
os estudantes
da escola técnica
exibindo suas
técnicas etílicas antes das seis
enquanto, meu camarada, o Jean
debatia com o Fábio Gadelha
astrologia, contradições
& passagens bíblicas
(o bar ficava ao lado
de um convento
toda hora ali passava, e de nós, desviava,
alguma freira);
a aranha marrom
no banheiro
onde ainda era normal se deparar
com alguma menina
de dedo na garganta
pondo para fora o vinho doce
na, sério mesmo, banheira;
gritalhões no corredor
apostando alianças
no jogo de palito
(que parecia de foices)
observados por alguns senhores
em seus velhos ritos
& sorrisos;
atrás do balcão, o João
alguns o chamavam de Gervão
(que era uma pinga que ele vendia);
então, certa semana
troquei a segunda pela quarta
e eu a vi
aquela guria
que lia Borges
ruivinha
claros olhos
longo vestido escuro
quietinha, na mesa sozinha
eu a vi
larguei as ilustrações que fazia
e levantei para falar com ela
eu ia a pedir em namoro
eu juro
no caminho,
alguém me chamou
olhei para o outro lado
era o Sid,
o sujeito que deixou o mar
a ver navios
ele me congratulou
pelos meus dezoito
completos um dia antes
e, sem jeito com essas coisas
mal eu soube agradecer
quando voltei para o caminho
que, caramba, era de uns dois ou três passos
a guria havia sumido
e ninguém havia a visto
desaparecer
pois não tinha ninguém ali
disse o Seu Branco, ou alguém
que minha memória
não quer mais
reconhecer
e eu nunca mais a vi
os dias seguintes foram frios
com noites de frieza
com perdas, tristeza
como a que levou o chapa Chaiu
ou da do Fabien, que se matou
(muitos entenderam "Fábio",
e achavam que era o Gadelha)
um clima estranho se instalou
até uma noite que o Mais Além
mandou tudo pro além
tocando Beatles
na calçada
foi quando conheci
uma namorada
que mordia minha orelha
mas a leitora de Borges,
mesmo depois do próprio Joãozinho ter morrido
do prédio onde ficava o boteco
ser demolido
do vetê ser extinto
da maioria ter parado com o vinho tinto doce
do Alexandre, o Côco
ter aberto um bar lá perto da Reitoria
e de revivermos tudo
um pouco,
ainda é um filme
centrado naquela pose
de pernas cruzadas
sandálias soltas
páginas viradas
olhar de canto
...
como ela
não se encontra
e se era um fantasma
é um fantasma
e tanto
28/6/2003