insolente
*
sobre os ombros não mais q três ou quatro toneladas.
inda assim danço sempre q a vida aperta.
sorrindo enquanto membros são mutilados.
sempre começando pelos dedos esquerdos:
até q reste somente os destros. logo: nem destros.
sobre os destroços o sangue escorre vivo e quente.
a música a dança não param: não podem parar.
os q inda não arrancaram fora suas línguas:
cantam a música dos pais de seus pais:
os já sem língua berram sons bestiais.
agora braços pernas: sempre começando pelo esquerdo:
até não haver nem esquerda nem direita.
a dança não para: o álcool também não.
a esta altura: todos berram como bestas.
os corpos se contorcem entre si
sem pernas braços boca ou língua.
sangue esperma substituem o álcool.
macho fêmea preto branco pequeno grande
já não há: já não houve: já não é.
olhos viram ardentes em brasa:
a vida inflama a cada cigarro:
o mundo gira como jamais antes.
o vômito vem adicionar seu azedo amargo
ao ar tomado por suor esperma.
o sol
insolente como todo filho bastardo
desponta seus raios no horizonte de fumaça.
as roupas são vestidas:
as brasas são apagas:
a música é silenciada:
a dança é abortada.
o horror é sempre este –
*