insolente

*

sobre os ombros não mais q três ou quatro toneladas.

inda assim danço sempre q a vida aperta.

sorrindo enquanto membros são mutilados.

sempre começando pelos dedos esquerdos:

até q reste somente os destros. logo: nem destros.

sobre os destroços o sangue escorre vivo e quente.

a música a dança não param: não podem parar.

os q inda não arrancaram fora suas línguas:

cantam a música dos pais de seus pais:

os já sem língua berram sons bestiais.

agora braços pernas: sempre começando pelo esquerdo:

até não haver nem esquerda nem direita.

a dança não para: o álcool também não.

a esta altura: todos berram como bestas.

os corpos se contorcem entre si

sem pernas braços boca ou língua.

sangue esperma substituem o álcool.

macho fêmea preto branco pequeno grande

já não há: já não houve: já não é.

olhos viram ardentes em brasa:

a vida inflama a cada cigarro:

o mundo gira como jamais antes.

o vômito vem adicionar seu azedo amargo

ao ar tomado por suor esperma.

o sol

insolente como todo filho bastardo

desponta seus raios no horizonte de fumaça.

as roupas são vestidas:

as brasas são apagas:

a música é silenciada:

a dança é abortada.

o horror é sempre este –

*

geovanne otavio ursulino
Enviado por geovanne otavio ursulino em 12/11/2014
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