brinde
levanto um brinde a solidão;
ergo a taça em nome do tédio;
bebo em glória da angústia;
embriago-me pelo vazio de mim...
podem me chamar de idealista,
mas eu não sou idealista!
o idealista é aquele que tem ideais
e eu não tenho nenhum ideal!
perdi-os a muito tempo...
num tempo em que podia sonhar,
num tempo em que havia sentidos
nas perspectivas de um amanhã...
as esperanças morreram todas
na descoberta da verdade
que matou o ideal
de construir a vida no amor!
os sonhos ainda existem...
estes não podem morrer!
é através deles que vivo
no mundo de uma imaginação...
levanto um brinde a solidão
que me cercou numa ilha
cercada de seres humanos
que meu coração não alcança...
ergo a taça em nome do tédio,
da monotonia de todos os dias,
sempre os mesmos, sempre iguais...
ato autômato de ser...
bebo em glória da angústia
de não ter ao meu lado
você a quem tanto amo...
procura insaciável da paixão!
embriago-me pelo vazio de mim
de nada vir a acontecer...
sem sentidos, sem ideais, sem perspectivas...
nada versus nada fora de mim!
a humanidade da desumanidade
corroendo como um ácido
os sentimentos humanos
do animal trancafiado...
ergo brinde sobre brinde
sem pensar, sem raciocinar...
apenas o momento de engolir
o gosto amargo do desespero...
sentindo a emoção
do fazer do sofrimento
em busca do esquecimento
do nada absoluto que represento!